O real interesse coletivo deve prevalecer no debate contra o coronavírus.
abril 13, 2020Ainda em ambiente virtual, Câmara retomará calendário de sessões
abril 17, 2020Desde o surgimento do primeiro caso positivo de Covid-19 em Curitiba, a cidade passou a trabalhar com o ecossistema de inovação do Vale do Pinhão em ações para o enfrentamento à doença e seus efeitos na nossa economia. Muitos serviços inovadores foram colocados em prática como a videoconsulta, a impressão 3D de máscaras, Feira do Largo Virtual, entre tantas outras. Também foi aberto um Chamamento Público para buscar soluções para apoiar os empreendedores curitibanos. A entrevista de hoje é com a Cris Alessi, presidente da Agência Curitiba de Desenvolvimento e Inovação. Ela vai contar como está sendo feito o trabalho de desenvolvimento econômico da cidade a partir do ponto de vista da inovação e de que forma essa doença vai impactar e acelerar o jeito que nos relacionamos com a tecnologia.
A Prefeitura de Curitiba fez o Chamamento Público 002/2020 para atrair startups e MEIs, micro e pequenas empresas que podem apresentar soluções para o enfrentamento dos desafios econômicos trazidos pelo coronavírus e contribuir para o bem-estar da população e ganhar um fôlego econômico. Como você avalia a receptividade dessas empresas? Muitas já estão participando?
A Prefeitura percebeu nesse período que muitas pessoas estão dispostas a ajudar com alguma solução, seja ela na área da saúde, seja ela na área de desenvolvimento econômico, de apoio aos pequenos empresários. As pequenas startups e muitas startups apresentam soluções com uma visão de nova economia, uma visão mais digital de negócios querendo se colocar à disposição para as mudanças de cenário, do analógico para o digital que o período exige. Então, a ideia foi dar oportunidades iguais a todas as empresas que queiram fazer essa aproximação, essa doação de serviços e produtos e para dar visibilidade. Outro objetivo foi dar mais agilidade, filtrar essas soluções para ver o que a Prefeitura pode consumir. Já temos alguns exemplos como a telemedicina e as vitrines virtuais artesãos da cidade.
Outro ponto é se as soluções apresentadas não forem consumidas pela Prefeitura, que não forem utilizadas pelo serviço público em algumas das suas áreas, mas que são sim soluções interessantes para o mercado, para um pequeno empreendedor, para uma startup até para um médio ou grande empresário ou para um hospital particular ou para médicos autônomos, são soluções que podem fazer com que melhore e facilite a vida das pessoas. Essas ideias também poderão ser usadas em outros segmentos da sociedade.
Então, por isso a gente fez esse chamamento porque com ele nós começamos a dar visibilidade em um site único, em um agregador à essas soluções. As empresas estão colocando as inovações à disposição com toda boa vontade para contribuir nesse momento e fazer com que as pessoas usem essas soluções para melhorar a sua condição atual. Estamos com um grande volume de atendimento. Muitos projetos estão em período de análise, alguns são analisados na própria Agência Curitiba, outros encaminhamos para as áreas especificas, para avaliar a qualidade do serviço.
As empresas que desejam participar precisam ter experiência naquilo que está ofertando, não pode ser um produto recém-criado, embora muitos dos produtos recém-criados agora estejam ajudando as pessoas, mas a gente só está validando produtos já com experiência de mercado ou com aplicação comprovada.
Pequenos negócios precisaram mudar radicalmente, e em pouquíssimo tempo, a forma como atuam. Muitos precisam migrar “na marra” do modelo analógico para o digital. Há uma forma de fazer essa migração minimizando impactos? Fazer de qualquer jeito pode agravar ainda mais os danos financeiros para essas empresas?
Estamos analisando o impacto de negócios digitais, negócios baseados em tecnologia, ou negócios na internet vem causando na sociedade e nos negócios convencionais nos últimos cinco anos. Estar na internet, em uma rede social ou em algum ambiente online além do ambiente físico, é quase obrigatório para qualquer negócio. Embora isso já seja uma realidade que não é de hoje, já percebemos nessa crise que muitas empresas, principalmente pequenos negócios, negócios autônomos, não estão preparados para isso. Então, claro que esses negócios sofrem mais com essa situação.
Há sempre a forma correta de se fazer, que é com planejamento, com estruturação, avaliação de oportunidades, plataformas, mecanismos e demandas. Mas, como muitas coisas tiveram que acontecer de um dia para o outro, de uma semana para outra, por causa da pandemia, fazer de qualquer forma tinha um risco. É um risco porque você pode não ter conhecimento suficiente para depois não suprir a demanda que o on-line te possibilita. Se você tem uma loja física, por exemplo, você tem ali as pessoas que passam, entram e saem da sua loja como seus clientes. Já na internet você tem um mundo inteiro como potencial cliente. Então, o mercado se abre de uma forma que se você não está preparado pode ser um problema. Tem as questões de custos também. Não é porque a empresa está na internet que é de graça. Então, para você ter uma plataforma custa dinheiro, embora nesse momento, nós mesmos estamos ofertando plataformas gratuitas de exposição de produtos, porque todo mundo está querendo se ajudar. Mas, a transação financeira no on-line, o e-commerce em si, o pagamento de boleto, pagamento via cartão de crédito tem uma taxa, assim como a maquininha no ponto físico tem sua taxa. O empresário precisa avaliar qual é a taxa, qual é a melhor opção nesse momento. A questão da logística é também um gargalo. O empresário não pode esquecer que o produto que vender on-line, precisa chegar ao cliente. Isso também é uma operação, que às vezes você precisa aprender a fazer. Se você nunca fez tem a questão de planejamento, de criar o planejamento de estoque. No on-line, o mercado é maior e por isso é necessário planejar o estoque, ficar atento ao custo correto, ao custo que te forneça a lucratividade necessária, mesmo depois das taxas de entrega. Outra coisa, não pode nunca esquecer do básico, tanto para o on-line quando o off-line, que é manter o cliente satisfeito e receber o feedback, que é sempre fundamental para qualquer meio.
Em meio a pandemia, um assunto entrou em destaque: A inovação. Tivemos excelentes exemplos em Curitiba como a Videoconsulta para atendimento médico; Telepaz, para atendimento psicológico, que não usa tecnologia, mas inova no sentido de fazer um atendimento de forma mais dinâmica e à distância; a fabricação de máscara-escudo facial, produzidas pelas impressoras 3D do FabLab Cajuru e dos Faróis do Saber e Inovação e a vitrine virtual para os artesãos curitibanos. Qual a importância dessas ações? E qual a relevância de tomar decisões assertivas de forma rápida?
De repente, nos deparamos com um cenário que precisava de absolutamente tudo e sentimos a necessidade de alcançar mais pessoas e promover o isolamento social de uma forma mais simples, tanto na área da saúde, que é a prioritária, e depois na área de negócios da economia, que já é nossa próxima grande onda de ação. Por outro lado, nós já estávamos engajados com esse mundo da inovação. O Vale do Pinhão tem três anos de ação contínua de acesso ao ecossistema de abertura da Prefeitura e da sociedade curitibana para essas oportunidades que a inovação vem trazendo. Nós promovemos a integração com o ecossistema, com as startups, com as empresas de base tecnológica através de eventos, de ações no Tecnoparque e nos programas de educação empreendedora, o que nos torna um conector muito forte da cidade e a partir do momento que as secretarias, que as áreas que nós mesmos enxergávamos e que a situação nos traria, a gente sabia onde buscar uma solução que poderia encaixar. Talvez não 100% da solução, mas como uma solução ligada à outra e mais a outra poderia encaixar para resolver o problema, ou ainda para resolver a parte do problema, ou mesmo para ser uma parte da solução. Por isso conseguimos fazer isso de uma forma muito rápida.
A Doctoralia, que é uma empresa que cedeu para a Secretaria de Saúde a teleconsulta, estiveram conosco durante o segundo semestre inteiro fazendo palestras para formação digital na área da saúde no Engenho da Inovação. E quando surgiu a necessidade de adequar a área da saúde às recomendações das autoridades de saúde, a empresa rapidamente se colocou à disposição da Secretaria Municipal da Saúde para, inclusive, mudar um pouco essa operação e adequar ao ponto que a saúde precisava naquele momento. Até porque sabemos que existe tecnologia que pode atender aquela demanda, naquele momento e tem a tecnologia que é fundamental, que é muito bacana, pode ajudar, mas nesse momento ela ainda não é prioridade para ser aplicada. Então, estar conectado, estar entendendo a evolução do mercado, os sinais que o consumo nos mostra, nos fez poder agir muito rapidamente nesses exemplos citados, sejam eles em uma teleconsulta, seja ele na vitrine virtual. Então, com essas startups trabalhando na parte técnica, a gente disponibilizando equipamentos e conectando o ecossistema para ajudar toda essa engrenagem girar, acho que esse que é o fundamental.
Na sua avaliação, o tema inovação ficará cada vez mais presente no dia-a-dia das pessoas no pós-covid19?
A digitalização de processos e serviços, o trabalhar em ambientes on-line como estratégia de negócio e a mudança do entendimento do negócio para o consumidor vai ser afetado sim. Creio que nós vamos passar por uma grande evolução do off-line para on-line, do não digital, para o digital. Como eu já disse antes, a evolução que ela já existe, ela já está posta no mercado, ela já apresenta soluções para que isso aconteça mas, que de alguma forma, estava lenta em alguns seguimentos, de algumas pequenas empresas, de atividade de alguns profissionais liberais que se sentiram desesperados no momento onde tudo ficou on-line. Eu acredito sim, que toda essa crise vai acelerar e muito esse processo de digitalização da economia, vai acelerar muito inclusive a forma de relacionamento do empregado com o empregador e creio também que a forma e a quantidade de consumo vão mudar um pouquinho. Então, com certeza, teremos um novo normal como temos falado nos próximos meses e nos próximos anos agora pós Covid-19.
A Agência Curitiba passou a disponibilizar uma série de conteúdos on-line. Qual a importância de se manter informado e atualizado em meio a um mundo em constante movimento?
Manter-se atualizado é fundamental em qualquer momento, não só em momentos de crise. É preciso olhar sempre para o que existe no mundo, estudar projeções de futuro, projeções da economia, o que a tecnologia vem transformando no mundo, na sociedade, no nosso país e na nossa cidade. É isso que fará a pessoa enxergar os sinais que transforma a sociedade de uma hora para outra, transforma a forma de consumo, as pessoas, as empresas, os negócios da educação, entre outros. E sabendo disso, nós enxergamos muito rapidamente que essa crise, esse isolamento social, faria com que as pessoas tivessem primeiro essa dificuldade de entender esse novo momento. Então, promovemos uma série de conteúdos práticos de como as pessoas podem ser mais produtivas trabalhando em casa, quais as plataformas que você pode utilizar para fazer uma reunião, para gerir seu time, qual é a melhor forma de gerir o tempo, como ser um bom líder nesse momento de gestão à distância, como montar seu negócio. É importante aproveitar esse momento para se especializar, para fazer um plano de negócio. Nesse primeiro momento, estamos fazendo um trabalho de conteúdo muito na prática, mão na massa, O outro passo, é a discussão do momento em si, da economia, das oportunidades de novos financiamentos, oportunidade de tomadas de decisões de busca de oportunidades ou de busca de soluções para a crise financeira que virá. Então tem toda uma questão de mostrar para as pessoas, para a sociedade, para os empreendedores, quais são as oportunidades que estão disponíveis, seja ela financeira ou de negócios. E no terceiro momento, a educação, o conteúdo para esse novo momento o que é preciso saber, como é que eu preciso me posicionar, o que eu não posso deixar de levar em consideração nesse novo momento.
Então, se manter atualizado, promover conteúdo e fazer com que isso chegue nas pessoas, a nossa grande missão da Agência Curitiba como conector de todo esse ecossistema, o ecossistema é altamente disponível para ajudar as pessoas, altamente colaborativo. O Vale do Pinhão sistema de Curitiba, é um ecossistema muito pronto para se colocar à disposição do outro. Então, o que fazemos é aproximar as pessoas que querem ajudar à pessoa que precisa de ajuda. Com isso, conseguimos fazer essa grande onda de cidade inteligente, porque não existe cidade inteligente sem que as pessoas também enxerguem, se coloquem nesse momento, estejam prontas para esse momento e desenvolva aí toda a questão social que precisamos desenvolver nos próximos passos.